terça-feira, 12 de fevereiro de 2019

PROCESSAMENTO DE IMAGEM - O QUE É E PARA QUÊ SERVE.

           

       Num dia desses vi uma abordagem sobre imagens astronômicas processadas, e percebo que principalmente para aqueles que não conhecem ou praticam a astrofotografia, há um equivoco na interpretação do "processamento de imagens".
           Com o advento do Photoshop nas fotografias, muitos acreditam que lindas imagens astronômicas são frutos de manipulação no Photoshop, o que não tem relação alguma, já que muitas imagens nem necessitam de ajustes, e se seus autores o fazem é para melhorar algum detalhe. Há aqueles que abusam da manipulação, e não é só nas imagens astronômicas que isto ocorre, e por isso muitas imagens "processadas" ganham uma má reputação como se tivessem sido manipuladas no Photoshop para se mostrarem tão belas.
                 O certo é que imagens de nebulosas fantásticas podem ser feitas do quintal de casa, e os telescópios não precisam ser sofisticadíssimos, como exemplo usarei duas imagens dos amigos Eduardo Ziller e Samuel Müller, ambas com telescópio de 150mm de abertura:


Foto de Eduardo Ziller - Telescópio GSO 150mm
6 frames de 300 segundos



Foto de Samuel Müller - Telescópio SkyWatcher 150 mm - 234 fotos de 30 segundos


          As duas fotos foram feitas com telescópios de pouca abertura, e o diferencial nesse caso é a montagem equatorial, que no caso do Samuel Müller, sei que se trata de uma montagem motorizada somente em um dos eixos, ainda mais simples, por isso o tempo de exposição mais curto (30 segundos). Agora, imagine o trabalho do autor ao fazer 234 fotos, para depois processá-las! É um trabalho artístico, e que de forma alguma pode ser depreciado. Provavelmente, se usou photoshop foi para algum balanço de cor do céu escuro ou brilhos.

               Outro fator que corrobora para a incredibilidade nas fotos, é o fato de na observação visual, utilizando de um telescópio, a nebulosa não ser identificada da mesma forma que na fotografia, mas aí entra outro fator, pouco conhecido pelos leigos ou iniciantes na astrofotografia: O fator do espectro de luz visível (olho humano) que abordaremos depois.

         Antes, vamos mostrar uma foto (frame único) da nebulosa de Órion, feita por mim Gilberto (em Patos de Minas-MG) , num telescópio de 200mm de abertura e também com exposição de 30 segundos, sem efeito algum no photoshop e sem processamento algum:


Foto frame único, 60 segundos, telescópio SkyWatcher 200mm - Gilberto de Melo Dumont


            A foto acima não recebeu tratamento algum no photoshop ou empilhamento. 
Mas qual a razão de não visualizarmos desta forma quando olhamos pelo telescópio? E por que utilizar processamento? Bem, há um ditado que diz que astrofotógrafo sempre está tentando tirar "leite de pedra", e é isso mesmo. Sempre estamos à procura de melhorarmos nossas imagens, mas a grande maioria sem manipulação que "crie" coisas que não estão ali na foto. A maioria dos que conheço utilizam de melhoramento, mas acredite, se não fizer uma boa foto, não saíra uma boa imagem, mesmo usando photoshop. 

           Respondendo à primeira pergunta: Se nossos olhos não virem não significa que não existe, só não é visível ao olho humano. A luz visível é uma das formas de onda existente, temos onda abaixo do espectro visível e ondas acima do espectro visível (levando em consideração o comprimento de onda). Quanto maior o comprimento de onda, menor a frequência e vice-versa. O espectro visível (olho humano) está em torno de 400 a 700  nanômetros. 


             A nebulosa de Órion é uma nebulosa de emissão e reflexão, formada por poeira e gás, e que ganha inúmeros detalhes quando explorada no espectro infravermelho ou seja, acima do comprimento da luz visível. Observada no espectro de luz visível, dentro de um tempo de exposição próximo ao processado pelo nosso cérebro, a nebulosa é vista assim:


Foto de 1s em telescópio 180mm e câmera sem modificação - Gilberto de Melo Dumont

             Como vimos antes, mais que um telescópio, a possibilidade de fazer fotos em longa exposição (montagem com capacidade de compensar o movimento de rotação da Terra) é que fará a diferença, aliada à expertise e domínio do astrofotógrafo em relação a seu equipamento e a uma câmera sem o filtro que bloqueia o espectro de luz com comprimento acima do infravermelho (geralmente todas as câmeras vem com esse filtro, para que as fotos de pessoas não saiam avermelhadas).
     Apenas longas exposições revelarão a paleta de cores proveniente dos gases que compõe as nebulosas, com ondas emitidas em sua maioria fora do espectro de luz visível, para isso um telescópio de 150mm e uma montagem com motor em um dos eixos já é o suficiente.

Por que fotografias de longa exposição? 

        Além de possibilitar detalhes dos astros, que com a observação visual não seria possível, todo o trabalho, desde a montagem do equipamento, o alinhamento polar, a colimação, calibração do telescópio, a guiagem, enfim, todo o processo, envolve um aprofundamento nos estudos e conhecimento do equipamento, algo que para quem gosta, não tem preço. Estou certo de quem faz astrofotografia (e sou um iniciante) tem um sentimento sublime ao ver o produto de seu trabalho, depois de um árduo processo que envolveu conhecimento em várias áreas, além de um planejamento para o feito. A leviana ideia de que "processamento" é uma foto feita com photoshop somada à doxa, de que é "só mirar e clicar" deprecia um árduo trabalho e estudo. A astrofotografia é um longo caminho, é um trabalho de arte que merece respeito!

             Abaixo segue a foto de Órion apresentada anteriormente, após o processamento (empilhamento) e ajustes no vermelho do céu através do Photoshop, devido a poluição luminosa, o que não deprecia mas ascende detalhes da mesma. Os detalhes da nuvem de gás e poeira é conseguido através do empilhamento de inúmeras fotos, no caso da imagem abaixo foram poucas (10 frames de 60 segundos) com câmera modificada (sem filtro de infravermelho).

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