Mais
uma aprazível efeméride astronômica nesta reta final de 2023! Teremos no dia 14
de outubro, no final da tarde, um eclipse solar: eclipse anular em uma estreita
faixa do Norte e Nordeste do Brasil e parcial nas demais regiões. O eclipse
anular é caracterizado pela dinâmica celeste onde a Lua, localizada entre a
Terra e o Sol, está a uma distância que não consegue encobrir o Sol
completamente, gerando uma espécie de "anel" luminoso ao redor da
Lua. Porém, o observador em Terra deve estar alinhado com a Lua e o Sol, e isso
só ocorrerá em uma pequena faixa que percorre o Norte e o Nordeste do Brasil,
além de países da América Central e os Estados Unidos. Já nas demais regiões, a
Lua encobrirá somente uma parte do Sol, caracterizando nesses casos um eclipse
parcial do Sol. O último eclipse anular que tivemos aqui no Brasil foi em 1995.
E o próximo será em 2067. Logicamente, ocorrerão outros eclipses solares totais e anulares, mas não serão vistos daqui do Brasil.
Em Patos de
Minas e em todo o Alto Paranaíba mineiro teremos um Eclipse Solar Parcial, com
cerca de 55% do Sol coberto pela Lua. Na capital do milho o disco lunar tocará
o disco solar por volta das 15:30h, com pico do eclipse às 16:47h.
É importante
lembrar que para ver o eclipse é recomendado óculos específico para esse fim,
com um filtro solar especial. Na ausência desse, utilizar vidro de máscara de
solda número 14 e certificar de que ele atende as normas ISO, além disso, olhar
somente por 20 segundos e "descansar" as vistas. A luz solar emite
espectros de ondas que não são detectadas pelos nossos olhos e podem causar
danos irreversíveis à visão. NUNCA usar "chapas de RX" ou óculos de
Sol para observar o eclipse. Embora a prática popular no passado de se usar
plástico de RX para este tipo de observação fosse muito comum, este material
não filtra a radiação solar, podendo causar sérios danos à visão. Além disso,
use bonés, protetor solar para pele e beba bastante água, principalmente se
estiver com crianças na observação. O Observatório de Astronomia de Patos de
Minas fará a cobertura completa deste eclipse de 2023.
Descoberta por uma equipe de astrônomos japoneses, usando vários telescópios em todo o mundo, a galáxia HD1 é a mais distante no tempo, localizada a 13,5 bilhões de anos atrás. Isso é surpreendente: apenas 300 milhões de anos após o Big Bang! A divulgação acontece logo após a descoberta de Earendel, a estrela mais distante no tempo, a 12,9 bilhões de anos. É uma viagem no tempo da mais elevada ordem: HD1 pode não mais existir, mas sua luz ainda está viajando em nossa direção.
HD1 foi encontrada usando 1.200 horas de observações e dados obtidos pelo Telescópio Subaru, Telescópio VISTA, Telescópio Infravermelho do Reino Unido e Telescópio Espacial Spitzer. A equipe então realizou observações de acompanhamento usando o Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA) para confirmar a distância, que é 100 milhões de anos a mais do que GN-z11, a atual detentora do recorde para a galáxia mais distante.
O artigo científico descrevendo a descoberta, foi publicado ontem, dia 7 de abril de 2022, no The Astrophysical Journal, com o título de "A Search for H-Dropout Lyman Break Galaxies at z~12-16”. “Foi um trabalho muito difícil encontrar a HD1 entre mais de 700.000 objetos”, diz Yuichi Harikane, o astrônomo que descobriu a galáxia. “Mas sua cor vermelha combinava surpreendentemente bem com as características esperadas de uma galáxia a 13,5 bilhões de anos.
A cor da HD1 é vermelha porque o comprimento de onda de sua luz é dilatado ao longo do tempo enquanto viaja pelo espaço, desviando para o lado vermelho do espectro eletromagnético (redshift z = 13.3). Como o Universo está se expandindo, galáxias muito distantes parecem se afastar de nós a velocidades maiores do que galáxias mais próximas.
O que também é surpreendente na HD1 é sua extrema luminosidade. Ela é particularmente brilhante na luz ultravioleta, indicando atividade altamente energética. Portanto é considerada uma galáxia formadora de estrelas muito ativa, e estima-se que esteja formando mais de 100 estrelas a cada ano, uma taxa 10 vezes superior que a média. Um buraco negro supermassivo no centro, no entanto, também poderia explicar sua extrema luminosidade: à medida que absorve enormes quantidades de gás, fótons de alta energia podem ser emitidos pela região ao redor do buraco negro.
Já está na programação do Telescópio Espacial James Webb observar a HD1 ainda este ano, confirmar sua existência e descobrir suas propriedades físicas.
Então, por enquanto, a HD1 é considerada uma galáxia “candidata” até que seja confirmada por uma equipe diferente de cientistas usando equipamentos ou métodos distintos. É assim que a ciência funciona.
O eclipse total não poderá ser observado do Brasil, mas algumas cidades poderão acompanhar o seu início. Em Manaus, por exemplo, o início do eclipse parcial poderá ser observado a partir de 05:44h (horário local), mas como a Lua estará a menos de 3odo horizonte se pondo cerca de 14 minutos depois, pouca coisa poderá ser realmente observada. Em Porto Alegre o início será de 06:44h com a Lua a cerca de de 4o, o máximo local será às 07:03h, instantes antes da Lua se pôr. Infelizmente a maior parte do país só poderá observar o eclipse penumbral, que dificilmente pode ser percebido.
Os melhores locais para observação desse eclipse serão na Nova Zelândia e leste da Austrália. Observadores localizados em cidades a oeste da América do Sul como Santigo no Chile e Lima no Peru poderão ver parte do eclipse total, com a Lua se ponto totalmente eclipsada. Cidades a oeste dos Estados Unidos e México como Los Angeles e Cidade do México também poderão ver a totalidade, mesmo a Lua já estando baixa no horizonte.
Em Patos de Minas não teremos a oportunidade de observar o fenômeno uma vez que a Lua estará se pondo no horizonte.
Ratificando que a totalidade do eclipse não será observada no Brasil.
Figura 10: Mapa do eclipse lunar 26/05/2021. Fonte: https://www.timeanddate.com/eclipse/lunar/2019-january-21
Produção: Vera Pinheiro /MCT Filmagem/edição: César Ferreira/ FINEP Todos os créditos e direitos aos autores acima, a quem deixamos nossos agradecimentos. O Observatório fez a adaptação e divulgação do vídeo.
Ronaldo Rogério de Freitas Mourão (1935 – 2014) foi um dos mais importantes astrônomos brasileiros. Dedicou-se incansavelmente à divulgação de Astronomia. Com centenas de artigos publicados para o público geral, inspirou gerações de jovens astrônomos. Foi idealizador e fundador do Museu de Astronomia e Ciências Afins (MAST), no Rio de Janeiro em 1984. Sua área de atuação profissional era em estrelas duplas e objetos do Sistema Solar. Foi também um dos fundadores da SAB (Sociedade Astronômica Brasileira em 1974).
No início dos anos 60, Ronaldo, como
astrônomo, foi dos primeiros a obter resultados com repercussão internacional. Depois se destacou com talento e conhecimento em história da ciência e da astronomia, promovendo com maestria sua popularização e divulgação. Conseguia motivar as pessoas de forma única, atrativa, apaixonada, sem nunca transigir com o rigor que a ciência requer, cativando gerações de admiradores e interessados em todos os níveis de educação e de idade. Foi o primeiro brasileiro a ter um asteroide com seu nome; realmente, o asteróide 2590 descoberto em 22 de maio de 1980 foi batizado com o nome Mourão, em homenagem “ao seu trabalho sobre estrelas duplas, pequenos planetas e cometas, além da criação do Museu de Astronomia e Ciências Afins”. Participou extensivamente do programa de descoberta e observação de pequenos planetas no ESO - European Southern Observatory.
Em 28 de novembro de 1984, foi homenageado pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro com o título Moção de Louvor pelo seu trabalho “Astronomia do Macunaíma” - voltado para o folclore ameríndio, abordando em sua obra o que o atinge mais de perto: mitos, lendas, relativos aos astros e fenômenos celestes, caracterizando-se como observador da correlação existente entre as lendas indígenas e aspectos da observação astronômica - por sugestão do Deputado Estadual José Talarico.
Muitos se tornaram astrônomos profissionais. Devemos um enorme tributo de reconhecimento pelas suas contribuições na ciência e sua disseminação.
Abaixo, outras atividades de destaque do nosso célebre astrônomo: doutor pela Universidade de Paris (Sorbonne), criador e primeiro diretor do Museu de Astronomia e Ciências Afins do Rio de Janeiro. Professor visitante da Universidade do Vale do Acaraú, Sobral, Ceará. Membro do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, da Academia Brasileira de Filosofia, da Academia Carioca de Letras e da Academia Luso-Brasileira de Ciências, Letras e Artes. Membro da Real Academia de La Historia e da Royal Astronomical Society (Londres), Société Astronomique de France (Paris); Société de Géographie (Paris), Sociedade geográfica de Lisboa (Portugal); membro correspondente da Academia Nacional de la Historia, Buenos Aires, Argentina; foi correspondente do Instituto Histórico e Geográfico del Uruguay, Montevidéu, Uruguai e da Real Academia de la Historia, Madrid, Espanha. Membro da Comissão 26: Estrelas Duplas Visuais; membro da Comissão 42: História da Astronomia; membro da Comissão 20: Asteroides e Cometas da União Astronômica Internacional (UAI).
Primeiro contemplado com o Prêmio José Reis da divulgação científica, instituído pelo CNPq (1979).
Astrônomos de todo o planeta estão de
olho no Asteroide Apophis, um dos mais temidos pela humanidade. Eles estão
aproveitando sua aproximação da Terra para estudar a gigantesca rocha espacial.
E essa será a melhor oportunidade de observação desse asteroide antes de 2029,
quando o Apophis fará uma passagem de arrepiar.
Descoberto em junho de 2004, o Apophis
fez uma aproximação da Terra, nos últimos dias daquele ano, que deixou a
comunidade internacional em polvorosa. Percebeu-se que havia uma chance dele
atingir nosso planeta em abril de 2029, curiosamente em uma sexta-feira, 13.
Naquela época, à medida que novas observações eram adicionadas aos cálculos, a
possibilidade de impacto aumentava. As chances de impacto chegaram aos 2,7%, o
que causou certa apreensão em todo o planeta.
Asteroide
Apophis (pequeno ponto no centro da imagem) registrado no Hawaii – Imagem:
Universidade do Hawaii
Esse asteroide tem cerca de 340 metros
de diâmetro médio (450 metros de comprimento), 41 milhões de toneladas e
energia equivalente a 60 mil bombas de Hiroshima. Se ele atingisse a Terra,
seria capaz de devastar milhares de quilômetros quadrados e causar dezenas de
milhões de mortes. Fica fácil entender porque ele recebeu o nome de Apophis, o
Deus egípcio do caos e da destruição.
Tamanho
do Asteroide Apophis (450m) comparado ao Empire State em Nova Iorque (443m), à
Torre Eifel em Paris (324m) e ao Pão de Açúcar no Rio de Janeiro (390m) –
Imagem: Asteroid Day Brazil
Felizmente, com o refinamento dos
cálculos orbitais ainda em 2004, concluiu-se que não há chances de impacto em
2029. Entretanto, ele fará uma aproximação da Terra de arrepiar, passando
perigosamente próximo do cinturão de satélites geoestacionários e a cerca de 32
mil km da superfície do nosso planeta. Tão perto que poderá ser visto a olho nu
de alguns locais do planeta, incluindo parte do Brasil.
Aproximação
do Apophis em 2029 passando bem perto dos satélites geoestacionários (pontos
azuis) – Imagem: NASA/JPL-Caltech
Após o susto inicial, alguns
astrônomos passaram a se preocupar com a possibilidade de que um desvio
orbital, provocado nessa aproximação em 2029, pudesse colocar o Apophis em rota
de colisão com a Terra em 2036 ou 2068. Mas um estudo publicado em 2013 afastou
a chance de impacto em 2036 e reduziu para quase zero as possibilidades em
2068. Só que não dá pra relaxar com um asteroide tão perigoso rondando nossa
vizinhança.
Desvio
esperado na trajetória do Apophis provocado pela interação gravitacional com a
Terra durante a aproximação de 2029 – Imagem: NASA/JPL
Recentemente, um novo estudo,
publicado por astrônomos da Universidade do Hawaii, mediu a influência do
Efeito Yarkovsky na órbita do Apophis. O Efeito Yarkovsky é uma pequena força
provocada pela radiação térmica de pequenos corpos em rotação no espaço.
Dependendo do sentido e velocidade de rotação, da temperatura média e do
albedo, o índice de refletividade do asteroide, o Efeito Yarkovisky pode
empurrar ou puxar o objeto em direção ao Sol.
O estudo foi chefiado por David
Tholen, que foi um dos descobridores do Apophis em 2004. Analisando novas
medições, feitas a partir do Telescópio Subaru, de 8,2 metros, no Hawaii,
Tholen e sua equipe concluíram que o Efeito Yarkovisky está provocando um
deslocamento de 170 metros na órbita do Apophis a cada ano. Parece pouca coisa,
mas para um asteroide com órbita tão próxima da Terra, esse pequeno
deslocamento acumulado ao longo dos anos pode ser a diferença entre uma
aproximação muito próxima e um impacto catastrófico.
Considerando o desvio cumulativo na
órbita do asteroide, a equipe revisou para cima as chances de impacto em 2068.
Apesar da possibilidade ser muito baixa ainda, cerca de 0,00067%, o estudo
reforça a necessidade de acompanharmos de perto o Asteroide Apophis.
E é justamente isso que vários
astrônomos de todo o planeta estão fazendo. Nesse momento, o Apophis está
passando a cerca de 17 milhões de quilômetros da Terra, o que não é tão
próximo, mas cria uma excelente janela de observação. Por isso, a IWAN – Rede
Internacional de Alerta de Asteroides criou a “Campanha de Observação do
Apophis 2021”, que visa aprender o máximo possível a respeito dessa rocha
espacial antes de sua maior aproximação em 2029.
Asteroide
Apophis registrado pelo Observatório SONEAR em Minas Gerais – Créditos: SONEAR
Em um dos exercícios dessa campanha, o
Apophis foi “redescoberto” e reportado como um novo asteroide. E a partir
dessas novas observações, os astrônomos estão seguindo todos os processos,
recalculando sua órbita, riscos de impacto com a Terra, prováveis locais
afetados e até mesmo discutindo possíveis medidas para redução de danos. O
curioso desse exercício é que, até o momento, utilizando as medições feitas
desde dezembro, as chances de impacto foram calculadas em cerca de 10%. Isso
significa que, se tivéssemos realmente descoberto o Apophis somente agora,
estaríamos todos bastante preocupados, já teríamos bares e igrejas lotados e
algumas pessoas pelas ruas vestindo placas alertando que “o fim está próximo”.
Obviamente, essas chances devem ser
reduzidas à medida que novas observações forem adicionadas aos cálculos,
tornando a órbita do asteroide mais precisa, confiável e semelhante à órbita
real, calculada a partir de mais de 15 anos de observação.
Grandes telescópios e radares, dos
principais observatórios do mundo que trabalham na pesquisa de asteroides,
estão aproveitando essa janela de observação para coletar dados mais precisos a
respeito da órbita e das características físicas do Apophis. Tudo isso servirá
como uma preparação para 2029, quando será necessário medir, com a maior
precisão possível, os efeitos desta aproximação na órbita do asteroide.
Qualquer mínima variação inesperada pode afastar definitivamente o risco de
impacto, ou colocar o Apophis em rota de colisão com a Terra em 2068.
Espectro
de refletância do Apophis, observado com IRTF da NASA, compatível com um
asteroide tipo Sq (rochoso/metálico) – Imagem: David Polishook/MIT
Somando-se a esse esforço, a NASA
cogita a possibilidade de enviar para o Apophis a sonda espacial Osiris-Rex,
que atualmente está visitando o Asteroide Bennu. Em setembro de 2023, a sonda
trará para a Terra uma cápsula com amostras do Bennu. A partir de então, ela
estaria disponível para uma missão adicional, e um dos destinos considerados é
justamente o Apophis. Se isso for confirmado, a sonda deve alcançar o asteroide
apenas em abril de 2029, pouco depois de sua máxima aproximação com a Terra.
Seria mais uma coincidência
interessante, ver Osíris, o deus egípcio da vida após a morte, encontrar
Apophis, o deus do caos e da destruição justamente após seu encontro com a
Terra que causou tanta preocupação por aqui.
Informações mais detalhadas a respeito
do Apophis e da Campanha de Observação de 2021 serão apresentadas durante uma
Live, organizada por Cristóvão Jacques no Canal AstroNEOS. Cristóvão é um dos
astrônomos do Observatório SONEAR, que participa da campanha, e um dos
principais brasileiros envolvidos na busca por novos asteroides próximos à
Terra. O evento está marcado para o sábado, 06 de março, a partir das 20:30h.
* Marcelo Zurita é
presidente da Associação Paraibana de Astronomia – APA; membro da SAB –
Sociedade Astronômica Brasileira; diretor técnico da Bramon – Rede Brasileira
de Observação de Meteoros – e coordenador regional (Nordeste) do Asteroid Day
Brasil
Há cinqüenta anos atrás, (7 de fevereiro de 1971), a tripulação da Apollo 14 deixava a órbita lunar e se dirigia para casa . Eles assistiram a este "nascer da Terra" ao passo em que se preparavam para orbitar a Lua em seu módulo de comando Kittyhawk. A Terra aparece em uma fase crescente. O terreno com crateras em primeiro plano está ao longo do lado lunar. Claro, enquanto orbita a Lua, a tripulação pôde observar a Terra subir e se pôr. As amostras de rocha coletadas na região de Fra Mauro (local de pouso da missão) incluíam uma rocha de cerca de 10 kg, apelidada de Big Bertha, contendo um provável fragmento de um meteorito do planeta Terra.