sábado, 30 de janeiro de 2021

ESPAÇO - TEMPO - VIDA

Os  piores  anos   de  nossas  vidas


POR NELSON  TRAVNIK


Iniciamos nesse 1º de janeiro, mais uma jornada ao redor do Sol. Nosso planeta na estonteante velocidade média de 29,5 km/s, irá percorrer nesses 365 dias e 5 horas, 942,4 milhões de quilômetros ao redor do Sol, algo que em linha reta nos levaria além da órbita do planeta Júpiter. Isso nos permite algumas reflexões  sobre espaço, tempo e vida.  No mundo atual, como estranhos em nosso próprio habitat, o ser humano vive a Era Espacial  em meio a notáveis conquistas tecnológicas, mas ainda não aprendeu conhecer a grandeza da sua pequenez e da sua estupidez. Multidões não se interessam em saber a luz da ciência e da razão, o que são, onde estão e para onde vão. A maioria vive porque respiram e colocam seu destino final com o preconizado pelas religiões sem questionar o que lhe é imposto pelos livros sagrados. É mais cômodo viver assim. Advindo qualquer infortúnio, é a vontade de Deus, um Deus miserável como eles mesmos insensível a um futuro de sofrimentos que ele sabe irá acontecer.  Concepção esta que não se sustenta mas que ,felizmente, encontrou melhor entendimento na sabedoria milenar de algumas filosofias orientais que a partir dos séculos XIX e XX viriam florescer em novas doutrinas e crenças descortinando o véu do obscurantismo teológico mostrando que a fé nunca pode estar divorciada dos conhecimentos científicos.   


O grande salto viria com Charles Darwin terminando com o homem de barro e a mulher da costela; com Galileu Galilei destronando a Terra do centro do universo e da Criação e com Giordano Bruno e Camille Flammarion dando inicio ao fim do nosso isolamento cósmico.  Esses novos conhecimentos abriu o grande portal da astronomia e ciências biológicas.  Infelizmente eles  ainda encontram-se ausentes na maioria das pessoas que pensam estar vivendo a época mais importante de todas. Doce ilusão de crianças que acariciam suas bonecas ...  Os egípcios, os romanos, só para ficar nesses dois exemplos, cultivavam o mesmo pensamento. O que sobrou de suas civilizações ? ruínas , pedras e pó. Exemplos que a maioria dos humanos não absorveram.


O estudo e a observação do céu é uma experiência de transformação e ampliação da consciência, proporcionando satisfação íntima, conhecimentos científicos e elevação espiritual. Ao final, ela nos mostra que somos simples engrenagens de um universo desconhecido e que na história da Criação, cem milhões de anos passam como um dia; apagam-se, dissipam-se como fugitivo sonho, no seio da eternidade que tudo absorve. Tudo no universo está inexoravelmente preso a marcha do  tempo. E nesse raciocínio, nessa contemplação retrospectiva, surge inevitavelmente uma questão  de cunho filosófico : qual o destino final de todos os seres pensantes que existiram, existem e existirão nos miríades de mundos habitados ?  Como  aqui irão tombar numa sepultura, num crematório para não ser mais nada ? Não cabe aqui enveredar nessa questão pois, no infindável universo, somos como  um grão de poeira ao sabor dos ventos do deserto. O ano que foi certamente será o ano da estupidez. Um vírus letal lançado na humanidade causando uma monumental pirâmide de cadáveres. O ano que vem mostra que, apesar da vacinação, estaremos ainda mergulhados por vários meses num oceano de  incertezas e sofrimentos.   


Nelson Travnik é astrônomo, diretor do Observatório Astronômico de Piracicaba Elias Salum e Membro Titular da Sociedade Astronômica da França.

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